06 ago 2020
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Cooperativa de agricultores de Paranaíta vira referência em produção sustentável

Autor: Assessoria de Comunicação

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Do município paranaense de Santa Helena, o avô de Sulivan da Silva migrou para Mato Grosso no ano de 1986. Sua expectativa à ocasião era ter o trabalho mais valorizado no cultivo do café, uma das principais atividades da região norte do estado à época.

Nas novas terras, teve de se readaptar diante da crise que abatia o setor cafeeiro. “Justo naquele ano deu baixa na cultura do café e fomos trabalhar no setor madeireiro”, conta Sulivan, hoje agricultor na comunidade Vila Rural Boa Esperança, o local escolhido pelo avô para se estabelecer na área rural de Paranaíta, município a cerca de 800 quilômetros de Cuiabá.

Foi um dos fundadores da Cooperativa de Hortifrutigranjeiros (Coopervila), criada em 2011 como resultado de um sonho dos agricultores familiares da comunidade de cerca de 50 famílias: produzir em maior quantidade e suprir a demanda local com o início das obras da Usina Hidrelétrica Teles Pires.

Presidente da entidade desde 2012, o agricultor afirma que a cooperativa elevou a qualidade de vida na comunidade. “Todo mundo percebeu que trabalhar em grupo e unido dá mais resultado e rendimento – conseguimos negociar melhor os preços”, diz.

Não só pela quantidade, mas pela qualidade dos produtos. Atualmente, as 20 famílias cooperadas da entidade contabilizam uma média mensal de nove toneladas de hortifrutigranjeiros, em maioria produzidos de forma agroecológica.

A maior parte dos sócios é da comunidade Boa Esperança, mas também há cooperados do assentamento São Pedro e de propriedades do entorno do município que cultivam hortaliças como alface, couve e rúcula e frutas como banana e abacaxi.

A produção é escoada com suporte da Rota Local, projeto do Instituto Centro de Vida (ICV) que apoia a negociação de preços, a coordenação entre demanda e oferta e a logística entre a comunidade e o principal centro urbano da região, o município de Alta Floresta.

Durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19), um protocolo de segurança sanitária possibilitou a continuidade das atividades da iniciativa, assegurando renda aos pequenos agricultores familiares e garantindo a oferta de hortifrutigranjeiros de qualidade produzidos localmente.

A Rota Local integra o Redes Socioprodutivas, projeto coordenado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES que busca o fortalecimento das cadeias produtivas implementadas de forma sustentável na região norte e nordeste do estado.

PRODUÇÃO ORGÂNICA E AGROFLORESTAL

Com apoio técnico do ICV pelo projeto Redes Socioprodutivas há mais de dois anos, as famílias viram potencial e aderiram à transição para a produção orgânica.

Sullivan ressalta os benefícios proporcionados pelo desuso dos até então regulares inseticidas e outros agrotóxicos que acarretam sequelas à saúde dos agricultores e dos consumidores, além de danos ambientais.

“É uma tendência futura. Tudo melhora. Precisamos conscientizar as pessoas que a produção orgânica é o caminho”, resume o produtor rural.

Os benefícios econômicos também foram sentidos, afirma Luan Cândido, técnico do ICV responsável pela cadeia de hortifrutigranjeiros do projeto. Ele cita o exemplo do pé de alface orgânico, que teve uma redução de custo em mais da metade em relação ao produzido convencionalmente.

“Mostramos que não só é possível. Eles viram que é mais barato, mantém e até aumenta a qualidade e é mais saudável”, afirma Luan.

Além disso, uma possível certificação orgânica pode resultar em valorização do produto e a inserção em mercados de nicho. A cooperativa integra a Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama), criada em 2019 para enfrentar as dificuldades burocráticas e amenizar os altos custos da certificação para organizações da agricultura familiar da região.

Eduardo Darvin, coordenador do Programa Negócios Sociais do ICV e do projeto Rota Local, explica que a produção de hortaliças é alta na época de seca, o que causa a diminuição no preço dos produtos que também precisam competir com a Ceasa de São Paulo.

“Eles encararam uma cadeia difícil, mas encararam a produção orgânica e a produção com sistemas agroflorestais. Estão sempre abertos às novas possibilidades”, afirma.

Não apenas livres dos agrotóxicos, as famílias implementaram 10 hectares de sistemas agroflorestais sob manejo orgânico em 10 propriedades de sócios da organização.

UNIDADE DE BENEFICIAMENTO

Os resultados do árduo trabalho dos agricultores familiares garantiram à cooperativa uma nova unidade de beneficiamento de frutas cuja construção deve ser iniciada ainda neste semestre com recursos do projeto Redes Socioprodutivas.

“A união foi tamanha que garantiu essa construção. Mostrou que com planejamento estratégico vai ser possível beneficiar as frutas e conseguir um valor melhor”, afirma Luan Cândido.

“Se a gente produz uma polpa de fruta 100% orgânica, vai ter diferencial para o mercado, então estamos apostando nisso”, comenta Sullivan, que, como seu avô, se adapta frente às dificuldades do setor econômico para permanecer na área rural da região amazônica. Dessa vez, com um olhar voltado para o meio ambiente, tão ameaçado na região.

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